quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Como uma rosa

Quando acordou, na manhã cinzenta de novembro, não sabia seu nome ou onde estava, mas ouvia as vozes na sala ao lado, que martelavam na sua cabeça como pregos nos ouvidos. O que aconteceu comigo, perguntava a si mesma, não tinha coragem ao menos de levantar. Fixou o olhar em uma nuvem escura que via através da janela acima de sua cama de madeira que rangia em cada suspiro seu.
As vozes ao lado iam ficando cada vez mais altas, chamavam um nome que não sabia se era o seu, estava vindo na sua direção como uma tempestade que podia quebrar a porta azul, trancada a sete chaves sem nenhum motivo.
Procurava na nuvem a resposta, saber quem era, naquele momento parecia o único lugar onde poderia se encontrar. Não tinha memórias, não sabia o que era nem de onde vinha, o olhar vago e vazio dava expressão morta à pele pálida e fracos braços e pernas que pareciam algum dia ter tido alguma vitalidade sobre os negros cabelos que lhe escorriam até a cintura. Mas porque não lembrava, simplesmente acordou naquela manhã sem lembrar? Era o que buscava naquele céu sem vida além do quarto escuro rodeado de vozes que agora gritavam coisas que não entendia, cada vez mais perto da porta, como se entrassem pela fechadura em direção à cama, agora vazia. Subiu ao parapeito para tentar olhar mais de perto, na ponta dos pés. Quando estava quase alcançando a sua verdade, as vozes arrombaram a porta com um vento que lançou seu corpo pra fora da janela. Enquanto caía, pensava se precisava mesmo saber disso, ao olhar pro chão, que estava indo em direção na mais alta velocidade, ela enxergou a cor de uma rosa vermelha em meio à grama morta. Era tanta beleza estampada naquela flor de esperança que ela sorriu ao cair no chão e sentir seus ossos se quebrarem e o sangue escorrer. Aquela rosa, que substituiu qualquer lembrança que tenha tido, lhe ocupou espaço por uma felicidade interna de não ter precisado saber quem era, ou de onde veio. Ficou olhando para flor, enquanto esmorecia ali no chão, tão solitária quanto a vermelha rosa, já quase sem vida, deu um último suspiro apoiado à brisa que passava pelas suas feridas e fechou seus olhos para levar consigo a imagem da flor para a eternidade.

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Ser e estar

Ser o que estou, estar o que sou.
Ser o que sou, estar onde estou.
Se é onde está, se está onde é.
Ser quando estou, estar quando sou.
Ser pensante, estar pensante.
Ser racional, estar sem reação.
É mal-estar.
É estar sem parecer ser.
É ser sem parecer estar.
É mais provável ser sem estar ou estar sem ser?

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Não volta...

Mais uma vez cansada, perdida em meio aos pensamentos de sua tenra juventude que não parecera tão bem aproveitada. Agora já tendo a perdido, sente falta da vitalidade e da força de vontade que antes a levava aonde quisesse para voltar quando pudesse.
Agora caminhava apoiada em sua bengala de madeira, quase sem força, pela cidade vendo os lugares onde passou maior parte da sua juventude, acompanhada pela neta que a segurava pela mão e conversavam por longas horas.
Parou de fronte a uma praça, fixou o olhar em um dos bancos lembrando épocas mais remotas em que costumava tomar chimarrão com os amigos nas cansativas tardes de domingo, em meio a risadas e longas conversas. Amigos esses que já não via há tantos anos, não sabia ao menos onde foram parar. Naquele momento lhe bateu um sentimento vazio e uma questão, será que deixara que todos se fossem sem ao menos terem conhecido sua essência, nunca contou nenhum segredo, nada além da diversão e conselhos amigáveis, era o ombro amigo para todos, mas nunca teve algum alheio ouvido que lhe escutasse, talvez nem quisesse contar seus segredos. Achava que nem seria de suma importância o que sentia na época, mas agora sentia tanta necessidade de falar quanto quando no tempo passado. De tanto não falar, agora a nem sabia como o fazer, mas ainda sentia um aperto no peito que lhe subia até a garganta junto a uma vontade de gritar que há anos andava consigo. O pensamento que sempre a acompanhava, a cada dia se firmava, que nunca esteve em um existência tão superiormente interessante que fosse digna de compartilhamento.

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Saudade que dói

Ha exatamente um mês atrás, uma das pessoas mais importantes da minha vida partiu, meu avô. Ele foi tão importante pra mim como meus pais são. Cada vez que eu volto pra minha cidade abro a porta da casa e não escuto mais ele me chamando essa imensa saudade dói no peito. De ver os seus diários e a genialidade de tão simples poemas que ele escrevia sentadinho quieto no seu cantinho, do seu bom humor e palavras tão simples e confortadoras que saiam da sua boca como um anjo. Tentar se conformar com a ideia de que ele pode estar melhor ja não tem tanto sentido pra tamanha saudade.

Súbito

As feridas passadas ja foram fechadas, mas é incrivel a minha dificuldade de demonstrar o que sinto. Porque tanta dureza? Nem eu mesma sei, ha tanta coisa se passando aqui dentro agora, nao sei o que fazer, o que dizer. Antigamente eu iria deitar e dormir, como se nada tivesse acontecido, mas hoje é diferente, são três da manhã e eu queria sair correndo, bater na porta e dizer tudo. Acho que algumas coisas que acontecem vão nos deixando mais "frios", em compensação, outras nos deixam tão "frágeis".Desculpa se você é uma vítima da minha "sensível insensibilidade".

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Desculpas aos 4 ventos

Desculpa por não querer te perder
Desculpa por não querer te ver indo embora
Desculpa por ser tão idiota
Desculpa por não dizer o que sinto
Desculpa por gostar tanto do seu sorriso, dos seus olhos, do conjunto todo
Desculpa por não conseguir demonstrar que tudo que acontece entre nós é exclusivo
Desculpa por nunca ter gostado tanto de alguém
Desculpa por querer que isso não termine nunca
Desculpa por ter chiliques trocados nas horas erradas
Desculpa por algum dia ter te feito sofrer
Desculpa por ter vergonha de certas coisas
Desculpa por ser tão boba
Desculpa por não querer que você saia da minha vida nunca mais
Desculpa por este facínio pela sua personalidade
Desculpa por este pedido de desculpas
Desculpa meu amor...

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Ciúmes

E um dia descobriu o que era o ciúmes. Ja era meio tarde pra isso, mas, infelizmente, pra tudo na vida ha uma primeira vez. Era inevitável que isso acontecesse, ja que nunca havia sentido gostar tanto de uma pessoa que estava ao seu lado. Pensou: Que sentimento é esse?
Não sei mais, mas não quero que ela se aproxime de lugares ou pessoas que a possam tirar de mim,
nem que seja em pensamento. Isso aconteceu uma vez:
-Não sei se é bom ou ruim, só não quero que se repita. Disse a si mesmo, olhando na frente do espelho.
Mas o que é melhor, que se exploda e grite pro mundo inteiro ouvir, ou que sinta calado e sozinho?

domingo, 23 de agosto de 2009

Um simples adeus....

No dia 23 de Agosto faleceu alguém que para muitos podia ser só mais um senhor com mais de 90 anos, o seu Valter, o vô da Paula, da Jaci e da Suelem, o Pai da Mana, o sogro do Jacinto, que viveu anos sentado em uma cadeirinha branca em frente à rodoviaria, sempre brincando, querido por todos que o rodiavam quanto à sua cadeira, tanto crianças, quanto adultos, velhos, até os bebados que rodiavam tal estação tinham apreço a ele. Valter da Costa, meu avô, tinha 93 anos vividos, 20 deles na minha casa. Calculando-se que eu tenha 20 anos, ele viveu a minha vida inteira comigo, me ensinou que a leitura é fundamental, mesmo não conseguindo mais enxergar as letras na época do acontecido, me ensinou a desenhar, a ter paciência, a não ter medo da chuva ou dos trovões, me ensinou a brincar e aproveitar as coisas simples da vida, me ensinou a jogar cartas como ninguém, a ter bom humor sempre, não importava o que acontecesse. Pra mim ele foi o melhor avô do mundo, descorda? Eu não conheço o se avô, mas conheçi o meu.
Acho que em uma hora como essa não me resta outra coisa, a não ser esse desabafo e meu mais sincero agradecimento por ter estado na minha vida. Muito obrigado vô!

sábado, 1 de agosto de 2009

Sobre ter segredos

"Segredos não são tão relativamente importantes quando guardados para nos mesmos, serão reais segredos quando compratilhados por duas pessoas, se for por mais, então, se tornarão mero 'boato'."

quarta-feira, 22 de julho de 2009

O Poço

Quando muito antes, brincava às voltas da piscina e via, não a sua, mas a imagem do céu refletida nas águas claras, tentava de tudo para alcançá-la e quando estava quase a tocá-la havia alguém que a afastava de tamanha beleza. Não possuia discernimento de vida, possuia sim três anos vividos e olhos atentos ao mundo que a rodiava. Um dia então, em um "pedaço" daquele céu que a chamava, a criança estava a se agaichar às suas beiras e achar uma forma de ir encontrar o azul brilhante. Em um momento de distração dos guardiões, escorregou o pé, arregalou os olhos, sorriu e abriu os braços ao mergulhar na imensidão. Aos poucos segundos que ai ficou suspensa em baixo d'água, não entendia porque tanta beleza a sufocava e porque abaixo dos brilhantes havia tanta escuridão. Quando ja esmorecia sentiu ser puxada para cima por alguém. De volta à casa, a criança foi posta para descansar após o ocorrido. O que se passava em sua cabeça? Naquele momento nada, mas anos depois sonhara e relembrara o fato, a única questão que ainda permanecia era por que tão rara beleza escondia tão escuras profundezas.

sexta-feira, 17 de julho de 2009

Dia chuvoso

28 de Maio de 1998, uma manhã chuvosa, a criança tinha apenas 9 anos, e qual criança desta idade que não quer sair e correr, pular nas poças d’água? Mas aquela não, há tempo que nem sequer dava um sorriso, justamente naquela manhã de tempestade cinza acordou agitada e inquieta, algo a empurrava a levantar da cama. Levantou-se, correu até a porta da frente, a abriu e ficou atentamente observando a água que caia das nuvens, passava por todas as folhas das árvores até tocar o chão. Em relance, sua mãe a viu de porta aberta com pijama e chinelos ao contraste do vento que vinha da abertura, imediatamente lançou-se : - fecha isso, vai te gripar. A criança sentou-se com pensamentos vagos, olhar distraído e sussurrou como se somente ela conseguisse ouvir: “Eu só queria brincar".

quinta-feira, 16 de julho de 2009

Ego?

Quanto mais se fala de "si",
mais o mundo em volta escurece,
pessoas desaparecem,
o "eu" se invaidece.

Assim...
os valores se vão
e palavras se tornam em vão.

É como entrevista sem pauta ou entrevistador,
é monólogo de ninguém,
é igual filme sem roteiro e diretor,
é a busca do alguém.

Assim...
os valores se vão
e palavras se tornam em vão.

Sábio? Aquele que se desconhece de si,
faz do eu a novidade, a diversidade
Sábio? Quem limita apenas o não,
e tenta vislumbrar algo que fica abaixo
e vai além de seu próprio chão.

Desconheça-se para o avesso,
vire, revire, desmonte
dobre, recorte e cole de volta
e nunca afirme o "conheço”

quarta-feira, 15 de julho de 2009

Não quero ter que divulgar meus textos

Não quero ser amiga de ninguém. Não busco sites de relacionamentos. Não busco relacionamentos. Quero ter meus textos lidos, criticados, votados e publicados. Ou não, inclusive. Quero ter feedback do mundo, quero ser lida pelo lado over and over. Quero fugir dos meios de massa, de manipular. Quero ser desejada pela junção das letras e não pelas gentilezas distribuídas, afagos mal amados. Não quero ter que divulgar meus textos. Encontrem-nos quem puder. Quero fazer parte dos alternativos, da via sujeita à opostos, bailei na curva. Não quero ser amiguinha de gente que nunca vi, nem quero ver em sua grande a maioria. Apenas quero ver o que produzem de bom, ampliar minha mente, minhas ideias, contribuir, contaminar e ser contaminada over and over and around the world!Custa?