sexta-feira, 11 de maio de 2012

Silêncio

-Para T.Borges
Fria noite de inverno, quente a solidão vastamente invade a alma dos ‘a sós’. Mesmo que fossem dois, eram duas solidões que os regiam em uma orquestra de silêncio e um clima constrangedor. O que foi que eu fiz, então bruscamente alguém quebrou o silêncio em um rompante de desespero. Você deve saber, a resposta seca e direta que se volta como uma faca rasgando o sentimento de culpa pelo não sei o que acontece. Barulho do relógio tic tac, estavam há horas e não disseram mais que meias palavras, em tons de acusação e tentativas de redenção ao erro nem bem explicito, mas muito bem entendido quando o silêncio se fazia na sala. Então alguém ligou a TV, e outro alguém levantou e desligou, o silencio é a cura, dizendo isso sentou-se novamente de fronte à janela com uma cidade tão suja por trás, dava para sentir o ar da sujeira de indiferença que rodeava os arranha-céus que estavam a perder de vista naquela paisagem nauseante. Mas alguém levantou e foi em direção à porta, pegando a chave em um só segundo, colocou a mão na maçaneta ameaçando ir embora se você não disser alguma coisa. Se levantou de fronte à janela e virou para a figura na porta, com os olhos de uma mágoa tão profunda que escorria pela face e jorrava pelas mãos trêmulas de quem não sabe o que dizer. E ali ficaram, por mais alguns minutos, enquanto a cidade se refazia em seus tons acinzentados e seus habitantes tão solitários e calados de sentimentos quanto aqueles dois. Fechou de novo a porta, onde os vizinhos passavam e observavam a incomum movimentação dos moradores daquela casa que nunca estivera tão silenciosa. Nem percebendo que o dia já ia clareando e as mãos em cima da mesa já ansiavam qualquer resposta além do não responder e do não fazer barulho, além dos passos surdos e angustiantes pela sala praticamente vazia. Quando o tic tac do relógio anunciava 8 horas da manhã, já clareou o dia e ainda estamos aqui sem nada e sem respostas e quase sem rosto além do cansaço, alguém sussurrou em um suspiro quase fundido ao silêncio que pairava abaixo do som dos carros e de crianças correndo para ir para a escola em uma manhã morna que ia desfazendo a noite que fora tão fria e incalculavelmente longa para um deles. Quem estava tão atido ao silencio começou de repente a falar e lembrar as horas que passaram à luz da lua, nas quais o silêncio sempre fora o que permanecia banhando seus sentimentos de respostas sem prévias perguntas e nem ações que merecessem julgamentos e vereditos sobre atitudes. Porque tudo isso agora? A aflição tomava conta de quem temia qualquer atitude que iria julgar tão impensada quanto a sua, que era o que resultou nesta noite de espera e desespera. De repente começou a criar argumentos em defesa própria, não podia fazer nada não faça isso me diga alguma coisa me diga o que fazer. Se levantou alguém que tinha uma decisão por tomar, foi até o quarto pegou as malas do outro, as entregou, arrume seu nada e vá embora carregando esse vazio que nunca me foi suficiente, e só lhe tenho uma coisa a pedir que faça só volte quando conseguir ouvir tudo que esse silêncio tem para te dizer. E foi, e não voltou. Algumas vezes tinha vontade de voltar, mas nunca silenciou e nunca compreendeu.