sexta-feira, 19 de abril de 2013

Corredor

São tempos difíceis para os que têm esperança de que as coisas um dia vão mudar. São tempos difíceis para os que acreditam no amor, no amor de verdade, na compaixão e no amor de intensidade, de amar qualquer coisa. Perpassando os corredores e sendo levado até o lugar onde passaria os seus últimos momentos, pensava em como era difícil, como era difícil ser gente que sente, que quer sentir e ser sentida. Então, porque seria eu a mudar o rumo de todas as coisas se assim elas já estão postas e impostas? Enquanto caminha pelo corredor, passa toda sua vida diante de seus olhos, todos os erros, os erros em que acreditou. De repente voltou ao momento crucial que o levara até onde estava agora, e viu o momento em que se deu conta que o amor já não tinha o mesmo valor. Mas então qual o real valor das coisas? Se, no começo de tudo, tivesse aberto os olhos e caminhado de encontro à razão, talvez não estive em um corredor tão estreito e sem volta. A razão agora o afronta saindo pela pele e brilhando no fundo dos olhos, que visitam todas as salas no decorrer do caminho. Em uma das salas, lá está sentado seu orgulho com os olhos de emoção e despedida, abanando como quem avisa que agora vai ser curado, restaurado e vingado. Os pés descalços avançam em zigue-zague e o corredor se estreita, de uma forma que só se passará pelo final quem estiver de pleno acordo de deixar as emoções para trás. Levantando a cabeça e olhando em direção à porta que vai se abrindo enquanto uma comissão o espera do outro lado. Preciso ir até o fim, era o que repetia enquanto observava a luz da porta aumentando na medida em que abria alguns metros à frente. Em chegar perto, algumas lágrimas se posicionaram em tom de ameaça de se mostrarem. Na tentativa de parar, foi arrastado pelos arranhões e machucados da vida e de tudo que sentira até ali. Todos eles sussurravam em tom de zombaria, avisando que se desse para trás eles voltariam a tona, maiores, piores e mais sucessivos. As últimas coisas que sentira nos últimos metros antes de chegar ao fim do corredor e passar pela porta foram medo e dúvida. O medo e a dúvida o faziam andar cada vez mais devagar em direção à porta que já se escancarava e quase podia ver claramente quem o esperavam do outro lado. Quando pisou no primeiro feixe de luz que vinha de lâmpadas fracas e sujas, os machucados e arranhões seguraram o medo que não o deixava andar. Livrando-se do medo, as dúvidas não fizeram mais sentido e foram se dissipando de acordo com o feixe de luz que ia aumentando enquanto a razão pressionava todos os sentimentos ali restantes. Pronto. Chegou ao final do corredor, ultrapassou a porta e foi iluminado por aquela lâmpada fraca e suja, os que ali estavam não lhe disseram nada, apenas apontaram para a última cadeira da sala. Lá estava ele, o ego que o chamou para sentar enquanto mandava buscar a razão. Ali, sentado entre o ego e a razão, tomou as rédeas da vida e nunca mais sentiu nada. Nem medo, nem dúvida, nem arranhões, nem machucados, nem esperança...