quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Culpa

É o gatilho, é um simples acabar com essas grades que o prendem aqui dentro. Como foi parar la dentro? Acho que nem ele mesmo sabe. A vida o trouxe até aqui, a escolha dos caminhos, e principalmente os erros. Sempre achava que poderia fazer o que quisesse, e naquele dia acabou com o que estava irritando. Estava pagando pra ter paz e sossego, mas aquilo estava constantemente acabando com a sua tranquilidade, três batidas na cabeça e pronto, aquele vizinho infernal estava estirado no chão, sangue escorrendo. Ele virou-se e voltou caminhando calmamente até sua varanda, sentou-se acendeu um cigarro, nem pensava no que tinha feito, só admirava aquele céu azul que ameaçava a primavera que estava por vir, imponente, satisfeito. Em nem 4 horas estava la, preso, em um “não se importar” que admirava os familiares de quem foi tirada a vida. Em julgamento não precisou mais do que duas palavras: FUI EU. Preso, condenado, encarcerado. Alguma pergunta? – Posso levar um maço de cigarros? E essas suas únicas palavras dentro daquele lugar imundo que acusava as culpas de todos que estavam ali e inclusive a própria, que ele negaria inconscientemente até o momento do gatilho. Passava pelos outros presos em ar de leveza, justiça feita, punição inútil e curta. Nas horas de sol sentava-se do mesmo jeito sempre, fumando seu cigarro, expelindo a fumaça e olhando pra ela até que se dissipasse no ar, sem olhar pra ninguém, talvez fosse receio de ser incomodado de novo, então preferia a solidão e sua própria companhia. Depois de muito tempo imune, dia após dia, o olhar começava a se fazer mais e mais perdido e confuso, talvez o silêncio estivesse dando espaço para que a consciência falasse aos seus ouvidos. Tempo depois começava a andar ligeiro por entre os outros, olhar ensanguentado e aflito, de vez em quando dava olhadas para trás como quem estivesse a receio de ser seguido por alguém, enquanto andava mexia a boca e balançava a cabeça em sinais de reprovação. Culpa? Talvez. Mais parecia uma ânsia que pressionava sua cabeça quando viu toda sua vida passando diante de seus olhos e antes de apertar o gatilho gritou: EU QUERO MINHA LIBERDADE DE VOLTA.