quinta-feira, 16 de junho de 2011

"Carry on, carry on..."

Tudo que foi não volta, não iria querer voltar atrás para refazer o caminho e acertar, eu não tenho culpa de nada, falando em tons de absurdo na frente do espelho. Acordou com a indignação estampada no rosto, nem sabia por quê. Estava pensando em todos os “poderia ter sido” do passado. Em como realmente teria sido melhor ter escolhido todos os lados direitos dos caminhos invés dos esquerdos, ou ter alternado, ou ter tropeçado em mais pedras durante um tempo pra enfim chegar a alguma cachoeira cintilante ao final e colocar a cabeça na água fresca e ver que realmente tudo aquilo valeu a pena. Ou, ou, ou... não dá para voltar atrás, fiz o que tinha que ser feito, repetindo com a cabeça próxima do espelho e analisando as olheiras acumuladas durante anos a fio com poucas horas de sono e muito mal dormidas, as pontas dos dedos amareladas da nicotina absorvida nas noites de insônia. Tomar banho e sair novamente pelas ruas vazias às 6h da manhã, passando por uma pessoa ou outra que olha para a figura pálida com estranheza ou pena andando de camiseta nos frios que perpassam as olheiras e os fones de ouvido tocando Bohemian Rhapsody a todo o volume que for possível para abafar os pensamentos. “Carry on, carry on...” a música entra pelos ouvidos e absorve os pensamentos até a esquina onde há um trevo com três saídas, onde todos os caminhos podem levá-lo ao mesmo destino. Música acabando, os pensamentos vem à tona na cabeça que gira enquanto o movimento de gente e carros começa para a rotina agitada da cidade que estava adormecida. “Nothing really matters to me...” para onde eu vou? Não vou me repetir, não vou me repetir, não vou me repetir... e o movimento o vinha cercando na esquina, a cabeça girando em sentido contrário aos pensamentos, buzina, buzina, vozes, desmaiou. Se viu de novo em frente às 3 saídas, mas uma esquina abaixo, lá na frente, um homem alto, magro, que olhava também para os caminhos sem saber para onde ir. Caminhava sem sair do lugar, corria e o homem nunca se aproximava, chamava em gritos por ele sem sucesso, o homem parecia observar bem as três opções, quando ele se virou pôde ver a si mesmo, uns 20 anos mais jovem talvez. Sentou-se. Começou a pensar no que poderia estar acontecendo, ligou o mp3, o homem à frente parecia reagir tendo escolhido um caminho para seguir, quando sumiu no horizonte de um da reta escolhida, olhou para trás o mesmo homem vinha subindo a mesma rua e fez a mesma parada, os mesmos gestos de dúvida, mas escolheu um caminho diferente de antes, e quando olhou para trás vinha ele jovem novamente fazendo a mesma parada, os mesmos gestos de dúvida e escolheu o último caminho a ser seguido. Quando olhou para trás vinha ele novamente ouvindo Bohemian Rhapsody no último volume, olhar de indignação, dedos amarelados de nicotina, olheiras fundas e cuidando bem o chão por aonde vinha pisando, quando deu de cara consigo mesmo acordou no mesmo lugar onde tinha ficado inconsciente com toda a multidão ao redor se questionando o que havia acontecido com o homem magrelo que desmaiou no meio da rua. Levantou, ligou o mp3 novamente, mas dessa vez em volume que pudesse escutar a si próprio, parou em frente à avenida de múltiplas saídas e repetia NÃO HÁ ERROS, NÃO HÁ ERROS, o caminho está certo, o erro está no final da linha, e deu a volta sem olhar para trás.

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